ANDREI BASTOS
Saber envelhecer é uma virtude pouco apreciada e nada
cultivada por quem se apega desmedidamente a algum poder, mesmo que seja o de
síndico de prédio residencial. De síndico a presidente da república, muitas
gradações do brilho que mais alimenta as vaidades hipnotizam as almas pequenas
de seres humanos menores ainda.
Quando o poder individual, em qualquer nível, resulta de
processos coletivos de conquista de direitos, temos justificada uma liderança
real, que nasce com os dias contados por causa de sua própria natureza
transformadora. Contrariar esse movimento é condenar a conquista realizada à
estagnação e degradação.
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Comecei minha carreira de jornalista aos 19 anos, no extinto
Correio da Manhã, e sempre integrei os processos coletivos da minha categoria
profissional, tanto na luta contra a ditadura como nas reivindicações por
melhores salários, reconhecendo e apoiando as lideranças legítimas que se
afirmaram nesses processos.
Durante toda a minha vida profissional portei com orgulho a
carteira da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que renovei todos os anos,
até recentemente. Há coisa de uns dois anos, desisti da carteira, e no ano
passado, pensei em desistir da própria ABI. Ao receber os primeiros boletos de
cobrança de mensalidade, olhei com melancolia para eles e os joguei no lixo.
Passados alguns meses, com mensalidades acumuladas, reagi e
retomei os pagamentos, resgatando em mim a crença de que à ABI só podia estar
reservado um destino digno, ao menos, apesar de se evidenciar na sociedade que
a brava combatente do passado parece não ter sabido envelhecer, se escondendo
envergonhada atrás de andaimes “de fachada”.
Além disso, para um ex-estudante de arquitetura como eu,
mais do que os andaimes “de fachada”, a aparência lúgubre das instalações do
Edifício Herbert Moses, projetado com inspiração nas ideias do meu ídolo Le
Corbusier, denuncia a incúria da sua administração. Do hall de entrada, no
andar térreo, ao jardim de Burle Marx que não existe mais, no 13º andar, tudo
cheira a mofo.
Bons tempos em que ventos transformadores arejavam as salas
e auditórios da ABI, expulsando o mofo que hoje ocupa suas paredes e acomoda
sua administração em apego apoplético a um poder decrépito! Quero voltar a ter
orgulho da ABI e a renovar minha carteira de sócio todo ano, e não vejo como
isso poderá acontecer com a permanência do atual estado de coisas.
É preciso mudar a ABI, para que a instituição não envelheça
sem a dignidade que não faz falta a quem não sabe envelhecer e, decadente, a
compromete com evidente incapacidade de gestão. Quero voltar a frequentar a
Casa do Jornalista com o mesmo espírito que me animava nos processos coletivos
dos jornalistas no passado, solidário e encorajado pelos meus pares.
Para a ABI, saber envelhecer é, antes de tudo, saber renovar
a alma com a grandeza de reconhecer que nenhum poder é eterno e a alternância
na sua ocupação mantém saudável o seu corpo, que é coletivo, de todos os
jornalistas.
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