JOSETI MARQUES
O título
deste artigo, por si só, poderia poupar o leitor das linhas que se seguem. A
pergunta, dirigida ao jornalistas, é o gancho que justifica a pauta e que
poderia dar início à apuração da uma matéria que ninguém ainda se dispôs a
escrever, porque os jornalistas não se interessam pela ABI que temos tido. E
cabe a pergunta: o que justifica uma luta ferrenha, com recurso até mesmo a
expedientes que ferem a honra e a
ética, em nome apenas da
manutenção de cargos na diretoria da Associação Brasileira de
Imprensa?
A
inquietação surgiu ao reler a edição do Jornal
da ABI, comemorativa da eleição que substituiu Fernando Segismundo por
Maurício Azêdo, em abril de 2004, dando posse à diretoria da qual fiz parte,
com diretora de Jornalismo. Voltar àquela edição foi uma provocação de Domingos
Meirelles, eleito na época como Diretor de Assistência Social, e que disse
ter-se comovido ao reler o que eram os nossos sonhos. Mas o que vi nas entrelinhas
daquele jornal não foram apenas os sonhos que hoje vemos frustrados, mas uma
realidade problemática que ainda aguarda apuração e sem o que a ABI jamais virá
a cumprir seu ideal. Peço, aos que tiveram a paciência de nos ler até aqui, que
consultem, no link abaixo, a matéria que conta as artimanhas vergonhosas
urdidas pelos “inquilinos” dos cargos da ABI, para impedir a eleição que daria
a vitória à chapa encabeçada por Maurício Azêdo, de oposição a Fernando
Segismundo, que ocupou a
presidência nos período de 1977-1978 e 2000-2004 http://www.abi.org.br/jornaldaabi/Junho-2004.pdf.
O que
aconteceu naquela oportunidade está-se repetindo agora, com os mesmos lances
que desrespeitam os princípios democráticos e ferem a honra de qualquer cidadão, sendo ainda mais grave se o cidadão for um jornalista a quem a sociedade confia a
defesa de seus anseios. E desta vez, por aqueles que diziam defender a bandeira de
uma ABI democrática, plural. E aí, mais uma vez, cabe a pergunta: o que faz com
que jornalistas lambuzem a honra e manchem o currículo em nome da permanência
nos cargos de diretoria da ABI?
O que se
espera do jornalista que ocupe qualquer dos postos da diretoria é doação
pessoal, trabalho voluntário, o arregaçar das mangas sem qualquer remuneração –
e aí se inclui o posto de diretor presidente. Em 2004, quando assumi a
Diretoria de Jornalismo da entidade, eleita na chapa a que hoje estamos nos
opondo, tinha plena consciência da missão a cumprir e da doação implícita
naquele compromisso. Os registros e documentos podem comprovar não apenas o
quanto foi significativa a minha contribuição, mas também a de outros dedicados
companheiros como Domingos Meirelles, que não media esforços pessoais para
honrar compromissos da entidade.
Naquela
ocasião, nos batemos pelo que
acreditávamos ser “a ABI que nós queremos”.
O tempo acabou por mostrar que esse “nós” daquela frase de campanha eram apenas
uns poucos, e que a ABI acabaria por voltar a ser aquela mesma caixa preta,
ornamentada de honrarias, mas de costas para a sociedade, para o jornalismo e
para os jornalistas, descolada dos dilemas e exigências do seu tempo. Então, ainda mais uma vez a pergunta se
impõe: o que está por traz de uma luta que não contempla interesses coletivos?
O que foi que a ABI fez, nestes últimos 10 anos, de que os jornalistas – todos
nós, os que não vivemos da ostentação de credenciais simbólicas – podemos nos
orgulhar?
Não vale
relacionar aí a carona nas lutas entabuladas por outras entidades, em troca de
descontos ou isenção no aluguel do amplo auditório da Casa; também não devem
servir de argumento as reportagens que denunciam as condições graves que
enfrentam os jornalistas no país e no mundo, porque as reportagens são
requentadas de outros veículos; menos ainda podem ser citados qualquer amparo a
jornalistas que vivem as difíceis condições da aposentadoria ou desemprego,
porque isso realmente não há. Ao contrário, o que há é a ameaça constante de
extinção de um serviço médico básico que a entidade ainda mantém em um dos seus
13 andares. As críticas aos desvios da mídia jornalística, disso a ABI nem
passa perto! Aliás, como apontar falhas no que fazem os jornalistas, se a ABI
não se relaciona com as entidades de formação dos jornalistas – as
universidades e instituições de pesquisa? Em nome de que os associados pagam
suas mensalidades? Para receber um jornal de manchetes adjetivadas que apenas
refletem a bile do seu editor e, destituído de prestígio e alcance, a nada mais
serve? Não, isso não vale o quanto
nos pesa.
Nos
últimos dias do final do meu mandato, em 2007, lembro que uma associada que
ocupava um cargo “virtual” na diretoria comemorava o final feliz de uma “grande
luta da entidade”: conseguir o espaço para a construção do Mausoléo do
Jornalista. Para que isso? – eu pensei. Talvez para abrigar a vaidade – que se
crê imortal – daqueles que estão transformando a entidade em um puxadinho desse
futuro mausoléo, dado o distanciamento em relação à vida que pulsa do lado de
fora do edifício histórico.
E quem
será digno de ter seus restos abrigados no espaço nobre desta última honraria? Certamente, lá
não terá lugar para jornalistas como
o saudoso Conselheiro Arthur Cantalice, que teve um infarto fulminante durante uma reunião do Conselho da ABI, quando se manifestava e, indignado, tentava impedir tudo isso contra o que agora lutamos.
Não, essa
pode ser a ABI que “eles” queriam, mas não é a ABI que nós merecemos.
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