1 de mai. de 2013

UMA ABI AMORDAÇADA


AUDÁLIO DANTAS

Não faz muito tempo, quando se falava em entidades representativas da sociedade civil, a sigla ABI aparecia sempre entre as primeiras. Era a primeira a se pronunciar sobre a violência contra jornalistas e em defesa da liberdade de expressão para todos os cidadãos. Sempre esteve à frente das lutas em defesa dos interesses nacionais, como na campanha do petróleo, nos anos 1950, e na luta de resistência à ditadura militar.

A voz da ABI foi a voz do povo brasileiro nas campanhas pelas eleições diretas, pela anistia e na denúncia dos atentados terroristas promovidos pelo regime militar e, por isso, os terroristas lançaram bombas contra sua sede, causando grande destruição.

Quando Vladimir Herzog foi morto sob tortura numa dependência do II Exército, em São Paulo, foi da ABI a primeira manifestação de solidariedade ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, de onde partiu a denúncia do assassinato.

A presidência da ABI foi exercida por homens do porte de Barbosa Lima Sobrinho e Prudente de Morais, neto.
Mas hoje a ABI não passa de um arremedo do que foi em seus 105 anos de história. Tanto que usa o nome de Prudente de Morais, neto para batizar uma chapa que, sem oposição, promoveu um arremedo de eleição, para garantir o quarto mandato consecutivo do atual presidente.

O que se fez a guisa de renovação de mandato não passou de uma fraude. Como outras, em anos anteriores, graças a mudanças estatutárias feitas com mão de gato.

Para garantir-se no poder, o atual presidente fez de tudo para impedir a participação da chapa de oposição, que leva o nome de Vladimir Herzog. Alegou inadimplência de integrantes da chapa, ao mesmo tempo em que tomou medidas para impedir que eles saldassem seus débitos em tempo hábil. Mas, agindo como dono da ABI, tratou de pagar, do próprio bolso, as mensalidades em atraso de mais de uma dezena de integrantes de sua chapa. Na pressa, denunciou a própria esperteza: no lugar do nome do candidato Argemiro Antonio Lopes do Nascimento escreveu atrás do cheque com que pagou as dívidas, o nome de seu irmão, o saudoso Tim Lopes.

Quer dizer, o nome de um jornalista morto em circunstâncias trágicas terminou na lista dos inadimplentes da chapa “vencedora”.

Cabe, então, uma simples pergunta: e o irmão do morto, que foi “eleito” sem ter saldado as mensalidades em atraso, como fica?

A lista de espertezas postas em prática durante o processo “eleitoral” é enorme. Mas uma delas resume tudo: por decisão judicial, a “eleição” foi realizada, mas só valerá se o atual presidente provar que não cometeu as irregularidades apontadas pela chapa de oposição, tanto em relação ao processo “eleitoral” quanto na administração da ABI.

É revelador o fato de que o candidato da chapa “vencedora” não tenha informado sobre a decisão judicial aos associados que, em boa fé, foram votar no dia 26.  


Leia também: 
"A cronologia da crise"
"A AIP apóia a chapa Vladimir Herzog"
"O que há por trás de uma luta esvaziada de interesses coletivos"
"A decadência da ABI"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário.